sábado, 28 de março de 2009

Início da caminhada

Em diferentes épocas, e de acordo com os acontecimentos do momento, foram adotadas, por diversas pessoas, diferentes formas de percepção da cidade, através do ato de caminhar. Ou seja, tais estratégias do caminhar refletem a sociedade e as mudanças vividas por esta em cada época.
Sendo assim, serão tratados a seguir o Flânerie, a Deriva e o Parkour.

Flânerie
Foi criado por Charles Baudelaire (1821-1867), um poeta que viveu na Paris do século XIX, momento em que se consolidava a Revolução Industrial, trazendo profundas mudanças na vida da sociedade da época. A grande cidade era uma novidade para as pessoas. Era um período de péssimas condições de trabalho. Ressalta-se, também, a reafirmação do capitalismo, bem como a valorização da mercadoria e do capital em detrimento das pessoas, as quais eram marcadas por uma angustia constante.
É em tal contexto que surge a figura do flâneur, um indivíduo que, frente a tal realidade, não a aceita passivamente e “recusa-se a ser um mero corpo servil”¹. Em contrapartida, ele adota uma postura de observador da cidade. Mais do que observar, ele “registra idéias, sentimentos e atitudes”², ele desenvolve uma reflexão ante os acontecimentos ao seu redor.
Devido à sua atitude de vagar pela cidade, observando sua dinâmica, seus contrastes, as diversas classes sociais e seus comportamentos, é atribuído ao flanêur, a imagem de ócio, de vadiagem. E esta definição, é a mesma encontrada, atualemente, no dicionário MICHAELIS, para o verbo flanar³.
Concluindo, ao invés da concepção de vagabundagem, a importância do Flânerie, dá-se principalmente ao fato da sensibilização do individuo e de sua capacidade de reflexão crítica frente à realidade a qual está inserido.

¹BARROS, Fernando Monteiro de. Baudelaire, Byron e Lúcio Cardoso - a flânerie e o dandismo do vampiro.
Disponível em: http://www.filologia.org.br/soletras/5e6/04.htm

²MELCHIADES, Danielle. Trilhando Diálogos com Baudelaire.
Disponível em: http://www.webartigos.com/articles/1285/1/trilhando-dialogos-com-baudelaire/pagina1.html

³MICHAELIS – Moderno Dicionário da Língua Portuguesa. Disponível em: http://michaelis.uol.com.br/



Deriva
Com um contexto histórico semelhante e em um momento posterior ao Flânerie, surge, então, através do Movimento Situacionista¹ – o qual tem como principal representante Guy Debord – a Deriva. Cabe lembrar também, que era uma época em que se iniciava o Movimento Moderno e suas prerrogativas funcionalistas.
A deriva é um ato de caminhar se um rumo pré-determinado, objetivando estudar as influências de ordem psíquica e emocinal que o meio urbano gera nas pessoas (psicogeografia), ou seja, trazer à tona uma reflexao sobre o espaco e a influencia do mesmo sobre o comportamento humano.
Tal técnica abarca os mais variados métodos, desde perambular sem um destino específico até se orientar em uma cidade com um mapa de outra, por exemplo.

¹ “Os situacionistas chegaram a uma convicção exatamente contrária àquela dos arquitetos modernos. Enquanto estes acreditavam em um primeiro momento, que a arquitetura e o urbanismo poderiam mudar a sociedade, os situacionistas estavam convictos de que a própria sociedade deveria mudar a arquitetura e o urbanismo.
Enquanto os modernos chegaram a achar, como Le Corbusier, que a arquitetura poderia evitar a revolução, os situacionistas, ao contrário, queriam provocá-la, e pretendiam usar a arquitetura e o ambiente urbano em geral para induzir à participação e assim fazer a revolução da vida cotidiana contra a alienação e a passividade.”
Internacional Situacionista – Deriva, Psicogeografia e Urbanismo Unitário.
Disponível em: http://deriva.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=42&Itemid=59





Parkour

O Parkour, contraditoriamente ao senso comum, não é um esporte radical mas sim uma arte (como as artes marciais, por exemplo), podendo ser encarado como uma arte de fuga.
Tendo como principal representante e criador o francês David Belle – que atuou no filme 13º distrito (Banlieue 13) – esta prática tem como princípio se mover de um lugar para outro (“do ponto A para o B”) de forma mais rápida e gastando a menor quantidade de energia possível (conceitos de eficiência e utilidade), tendo como único instrumento o próprio corpo. De acordo com David, a beleza não está na grandeza do movimento, mas no movimento em si, em quão intimidade o praticante (trauceur) tem com o movimento.
Há também a derivação Parkour Freestyle, que foca mais as acrabacias e se distancia da filosia da arte original.
Assim como as demais práticas, o Parkour também reflete o tempo e a sociedade em que está inserido: o hoje, o qual é caracterizado principalmente pela rapidez e velocidade, exemplificados seja na correria do dia-a-dia das pessoas ou pelo constante e acelerado desenvolvimento da tecnologia.
Uma frase que pode definir bem a ideologia do Parkour praticada por Belle é “Usar a cidade ao invés de deixá-la nos usar”¹.

O vídeo abaixo, mostrado em aula, é um bom exemplo da essência do Parkour e de uma edição de vídeo de boa qualidade.



¹Retirado do vídeo "Entrevista David Belle legendada".
Disponivel em:
http://www.youtube.com/watch?v=-qqG7b_ZCG4

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